quarta-feira, 10 de junho de 2009

O seu primeiro baile

Exatamente quando o baile começava Leila teria achado difícil dizer. Talvez o seu primeiro parceiro de verdade fosse o automóvel. Não importava que ela o dividisse com as Sheridans e seu irmão. Sentou-se atrás no seu próprio cantinho, e o descanso almofadado sobre o qual a sua mão repousava dava-lhe a sensação da manga do paletó de um jovem desconhecido; e ambos giravam, valsando ao longo de postes de iluminação e casas e cercas e árvores.
— Você realmente nunca esteve num baile antes, Leila? Mas, menina, isso é muito estranho ? — estrilavam as Sheridans.
— O nosso vizinho mais perto ficava a 15 milhas — disse Leila suavemente, abrindo e fechando o seu leque com delicadeza.
Ah céus, como era difícil ser indiferente como os outros! Ela tentava não sorrir demais, tentava não se importar. Mas cada detalhe era tão novo e empolgante... As angélicas de Meg, a grande presilha âmbar de Jose, a cabecinha morena de Laura, brotando da sua estola branca como uma flor através da neve. Ela se lembraria para sempre. Até teve uma pontada ao ver seu primo Laurie jogar fora os filetes de papel que ele tirava das abotoadoras das suas luvas novas. Gostaria de ter guardado aqueles filetes como lembrança, como uma recordação. Laurie inclinou-se para frente e apoiou a uma mão no joelho de Laura.
— Olha, querida, — ele disse — a terceira e a nona como sempre. Combinado?
Ah, que maravilha ter um irmão! Na sua excitação Leila sentia que se tivesse havido tempo, se não tivesse sido impossível, ela não teria conseguido conter as lágrimas por ser filha única, e por nenhum irmão jamais ter dito a ela “Combinado?”, nenhuma irmã jamais diria, como Meg dizia a Jose naquele momento:
— Nunca vi o seu cabelo ficar tão bem, preso, quanto hoje!
Mas, claro, não havia tempo. Eles já tinha chegado no salão de baile, havia automóveis à frente e atrás deles. A rua resplandecia margeada dos dois lados por luzes que pareciam ventiladores, na calçada casais felizes pareciam flutuar, sapatinhos de cetim perseguiam-se como passarinhos.
— Fique perto de mim, Leila, você vai se perder — disse Laura.
— Vamos, meninas, vamos atravessar pelo meio — disse Laurie.
Leila pôs dois dedos sobre a capa de veludo cor-de-rosa de Laura, e de algum modo eles foram levados além do grandes lustre dourado, através do corredor, e empurradas para dentro da saleta em cuja porta se lia “Damas”. Aqui a multidão era tão grande que mal havia espaço para tirar as suas coisas, o barulho era ensurdecedor. Nas duas bancadas de cada lado havia grandes amontoados de agasalhos. Duas velhas de aventais brancos corriam para lá e para cá jogando novas braçadas. E todas forçavam para frente tentando chegar à pequena penteadeira lá no fundo.
Um grande bico de gás bruxuleava na saleta das damas. Ele não podia esperar, já estava a dançar. Quando a porta abriu novamente, e uma explosão de sons vindos do salão se fez ouvir, ele saltou quase até o teto.
Garotas morenas, garotas loiras ajeitavam os cabelos, e reatavam fitas, enfiavam lenços nos corpetes, alisavam luvas brancas como mármore. E como todas riam, parecia a Leila que todas eram adoráveis.
— Será que não há nenhum grampo? — gritou uma voz. — Que coisa! Não acho um único grampo.
— Empoar as minhas costas... será que há um anjo — gritou outra.
— Mas eu preciso de agulha e linha. Eu simplesmente desfiei milhas e milhas da franja/babado — lamentou uma terceira.
Em seguida:
— Passe adiante, passe adiante!
O cesto de palha com os carnês era lançado de mão em mão. Adoráveis carnezinhos em rosa e prata, com lápis cor-de-rosa e pompons fofinhos. Os dedos de Leila tremeram quando ela tirou um da cesta. Ela queria perguntar a alguém, “Também posso pegar um?” mas só teve tempo de ler: “Valsa 3. 'Two, Two in a Canoe.' Polca 4. 'Making the Feathers Fly'” quando Meg gritou:
— Pronta, leila? — e lá se foram as duas abrindo caminho aos empurrões através do corredor na direção das grandes portas duplas do salão de baile.
O baile não tinha começado ainda, a banda tinha parado de afinar, mas o barulho era tanto que parecia que quando ela de fato começasse a tocar não seria nunca ouvida. Colada a Meg, olhando por sobre o seu ombro, Leila teve a sensação de que até as tremulantes bandeirolas coloridas presas ao longo do teto estavam falando. Esqueceu completamente a sua timidez, esqueceu-se de que enquanto se vestia sentou-se na cama com um pé calçado e outro não e implorou à mãe que telefonasse às primas e dissesse que ela não poderia ir afinal. E o acesso de nostalgia que ela tivera de ficar sentada na varanda da sua abandonada casa no interior, à luz da lua, ouvindo os filhotes de coruja piarem “Toco cru. Toco cru”, deu lugar a um acesso de felicidade tão doce que mal se podia aguentar. Apertou o leque, e, contemplando longa e avidamente o soalho faiscante dourado, as azaleias, as luminárias, lá no fundo o tablado com o seu tapete vermelho e as suas cadeiras douradas e a banda num canto, pensou ofegante: "Que divino! Simplesmente divino!"
Todas as moças estavam agrupadas de um lado, os rapazes do outro, e as chaperones, vestidas de preto e estampando um sorriso tolo, caminhavam a passinhos cuidadosos pelo soalho encerado em direção ao tablado.
— Esta é minha priminha do interior, Leila. Sejam gentis com ela. Arrangem-lhe pares; ela está comigo — dizia Meg, indo de garota em garota.
Rostos estranhos sorriam para Leila ? doce e vagamente. Vozes estranhas respondiam “Claro, querida”. Mas Leila sentia que as moças não a estavam vendo realmente. Elas olhavam na direção dos rapazes. Por que eles não começavam? Estavam esperando o quê? Eles ficavam lá, alisando as luvas, passando a mão pelos cabelos engomados e sorrindo entre si. Então, totalmente de repente, como se tivessem acabado de decidir que aquilo era o que deviam fazer, os rapazes vieram deslizando pelo parquê. Houve um alvoroço de alegria entre as moças. Um homem alto e louro precipitou-se para Meg, arrebatou-lhe o carnê e rabiscou algo; Meg passou-o a Leila.
— Dar-me-ia o prazer? — Ele fez uma reverência e sorriu.
Então apareceu um rapaz moreno usando um monóculo, depois primo Laurie com um amigo, e Laura com um sujeitinho sardento cuja gravata estava torta. Em seguida surgiu um homem já bem velho ? gordo, com uma grande calva ? pegou o carnê de Leila e murmurou:
— Deixe-me ver, deixe-me ver... — e ficou um longo tempo comparando o seu carnê, que parecia tomado de nomes, com o de Leila. A coisa parecia dar-lhe tanto trabalho que Leila ficou com vergonha.
— Ah, por favor, não se incomode — disse ela ansiosa. Mas em vez de responder o gordo escreveu algo, e olhou novamente para ela:
— Onde é que já vi esse lindo rostinho antes? — disse ele com voz macia. — Será que vou conseguir me lembrar?
Naquele momento a banda começou a tocar; o gordo desapareceu. Foi arrastado por uma imensa onda de música que lambeu o soalho rebrilhante, quebrou os grupos em casais, espalhando-os a rodopiar...
Leila aprendera a dançar no colégio interno. Todo sábado à tarde as internas eram enfiadas num pequeno galpão feito de chapas de zinco onduladas onde Miss Eccles (de Londres) dava aulas à sua seleta classe de “escolhidas”. Mas a diferença entre aquele galpão que cheirava à poeira ? de paredes revestidas com faixas de chita, aquela pobre mulherzinha aterrada de chapeuzinho de veludo marrom com orelhas de coelho martelando o piano frio, Miss Eccles a cutucar os pés das meninas com uma varinha ?... a diferença entre aquele galpão e este salão era tão grande que Leila tinha certeza de que se seu par não aparecesse e ela tivesse de ficar ali ouvindo aquela música maravilhosa e vendo os outros deslizarem, flutuarem sobre o soalho dourado, ela iria no mínimo morrer, ou desmaiar, ou alçar os braços e voar através de uma daquelas janelas escuras que mostravam as estrelas.
— A nossa, eu acho ? — Disse alguém numa reverência, sorriu, e ofereceu-lhe o braço, ela não tinha de morrer afinal de contas. A mão desse alguém apertou-lhe a cintura, e ela saiu a flutuar como uma flor lançada num espelho d'água.
— O chão está ótimo, não está? — balbuciou uma voz branda perto do ouvido do seu ouvido.
— A gente escorrega que é uma beleza — disse ela.
— Perdão! — A voz branda pareceu surpresa. Leila repetiu a frase. E houve uma pausa mínima antes que a voz ecoasse:
— Oh, deveras! — e a fizesse rodopiar novamente.
Ele conduzia tão maravilhosamente bem. Essa era a grande diferença entre dançar com as meninas e dançar com os homens, Leila sentenciou. As garotas davam encontrões e pisavam umas nos pés das outras, a garota que fazia o cavalheiro sempre te apertava tanto.
As azaleias não eram mais flores separadas, eram bandeiras brancas e cor-de-rosa que passavam voando.
— Você foi à festa dos Bells na semana passada? — insistiu a voz. Soou cansada. Leila ficou imaginando se deveria perguntar se ele gostaria de parar.
— Não, este é o meu primeiro baile — disse ela.
O parceiro soltou uma risadinha pelas narinas.
— Ah, sei... — protestou ele.
— Sim, este é realmente o meu primeiro baile. — Leila foi bem enfática. E era tão aliviante poder dizer a alguém.
— Sabe, morei no interior a vida inteira, até agora...
Naquele momento a música parou, e eles foram se sentar em duas cadeiras junto da parede. Leila enfiou os pezinhos de cetim cor-de-rosa sob a cadeira e se abanou, enquanto assistia radiante aos outros casais que passavam e desapareciam através das portas vaivém.
— Está se divertindo, Leila? — perguntou Jose, balançando a cabeça dourada.
Laura passou e deu-lhe uma piscadela muito sutil, e Leila ficou a imaginar por um momento se ela já era gente grande afinal. O seu par de certo não falava muito. Tossiu, guardou o lenço, esticou o colete, tirou um fio minúsculo da manga. Mas não importava. Quase imediatamente a banda começou a tocar e o seu segundo par pareceu jorrar do teto.
— Nada mal o soalho — disse a nova voz. Sempre se começava pelo chão? E depois:
— Você esteve na festa dos Neaves na terça-feira?
E Leila explicou de novo. Talvez fosse um pouco estranho que os seus parceiros não demonstrassem muito interesse. Porque era emocionante. O seu primeiro baile! E aquilo era só o começo de tudo para ela. Parecia-lhe que nunca antes soubera o que a noite era realmente. Até então fora escura, silenciosa, freqüentemente linda ? e sim ? um tanto lúgubre. Solene. E nunca mais seria daquele jeito de novo ? ela se inaugurara lancinante.
— Quer um sorvete? — disse o par.
E eles atravessaram as portas vaivém, o corredor, e chegaram à copa. As suas bochechas ardiam, ela tinha uma sede ferrenha. Que lindos que ficavam os sorvetes nos pratinhos de vidro e que fria estava a colher glaceada... gelada também! E quando voltaram ao salão o gordo esperava por ela ao lado da porta. Ela ficou chocada novamente ao ver quão velho ele era, deveria era estar sobre o tablado com os pais e as mães. E quando Leila o comparou com os outros parceiros, ele pareceu malvestido. O colete estava amassado, faltava um botão numa luva, e o seu paletó parecia estar todo empoeirado de giz de alfaiate.
— Venha, senhorita — disse o gordo. Ele nem se deu ao trabalho de abraçá-la, eles se movimentavam tão suavemente que mais pareciam caminhar que dançar. Mas ele não disse uma única palavra sobre o soalho.
— É o seu primeiro baile, não é? — murmurou.
— Como o senhor sabia?
— Ah, — disse o gordo — vantagens da idade!
Ele ofegou de leve ao conduzi-la desviando de um casal desajeitado.
— Sabe, venho fazendo isto nos últimos trinta anos.
— Trinta anos? — exclamou Leila. Doze anos antes de ela ter nascido.
— É difícil de imaginar, não é? — disse o gordo, melancólico. Leila olhou para a sua calva, e sentiu muita pena dele.
— Acho maravilhoso ainda estar na ativa — disse ela gentilmente.
— Gentil da sua parte, senhorita — disse o gordo, e puxou-a um pouquinho mais para junto de si, e entoou, de lábios fechados, um compasso da valsa.
— Naturalmente, — continuou — no seu caso não espere que dure tanto tempo. Nã-não — disse o gordo — não tarda você vai estar sentada lá sobre o tablado, de vigia, no seu belo veludo negro. E estes lindos braços estarão curtos e gordos, e você vai marcar o compasso com um leque bem diferente — preto e de osso. — O gordo pareceu estremecer.
— E a senhorita terá um eterno sorriso nos lábios assim como aquelas pobres velhotas lá em cima, e há de apontar para a sua filha e contar à velha que se achar ao seu lado, a história de um sujeito horrendo que tentou beijar a menina no baile do clube. E o seu coração ficará magoado muito, muito magoado — o gordo apertou Leila ainda com mais força, como se na verdade tivesse pena daquele pobre coração — porque então ninguém mais vai querer beijar você. A senhorita há de dizer que é desagradável caminhar sobre estes soalhos encerados, desagradável e perigoso. Hein, “Mademoiselle” Pé de valsa? — concluiu o gordo brandamente.
Leila deu uma risadinha, embora não tivesse a menor vontade de rir. Será que... podia ser tudo verdade? Soava terrivelmente verdadeiro. Era este primeiro baile só o começo do seu último? Diante desse pensamento a música pareceu mudar, soava triste, muito triste, o crescendo de um suspiro profundo. Ah, como as coisas mudavam rápido! Por que a felicidade não durava para sempre? Para sempre não era tempo demais.
— Quero parar — disse ela com voz ofegante. O gordo a conduziu à porta.
— Não. — ela disse — Não vou sair. Não quero me sentar. Só quero ficar em pé aqui, obrigada.
Encostou-se na parede, sapateando, esticando as luvas e tentando sorrir. Mas lá no fundo uma menininha cobriu a cabeça com o avental, e soluçou. Por que ele tinha estragado tudo?
— Sabe... quero dizer — disse o gordo — você não deve me levar tão a sério, senhorita.
— Como se eu tivesse...! — disse Leila, sacudindo a cabeça morena e mordendo o lábio inferior...
Os casais desfilavam novamente. As portas vaivém batiam para lá e para cá. O mestre da banda anunciava uma nova canção. Mas Leila não queria dançar mais. Queria estar em casa, ou sentar-se na varanda e ouvir os filhotes de coruja. E ao olhar as estrelas através das janelas escuras, viu que tinham longos raios, que pareciam asas...
Mas agora começava uma música suave, relaxante e arrebatadora, e um jovem de cabelos encaracolados fez-lhe uma reverência. Ela teria de dançar, por pura delicadeza, até que pudesse encontrar Meg. Muito tesa caminhou até o centro, muito altiva colocou a sua mão sobre o braço do jovem. Mas em um minuto, em um giro, os seus pés deslizavam... As luzes, as azaleias, os vestidos, os faces rosadas, as cadeiras de veludo, tudo se tornou uma linda roda girante. E quando o seu próximo par a fez rodopiar ao encontro do homem gordo, que disse “Perdão”, ela sorriu para ele mais radiante que nunca. E nem mesmo o reconheceu.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Parte 1

Exactly when the ball began Leila would have found it hard to say. Perhaps her first real partner was the cab. It did not matter that she shared the cab with the Sheridan girls and their brother. She sat back in her own little corner of it, and the bolster on which her hand rested felt like the sleeve of an unknown young man's dress suit; and away they bowled, past waltzing lamp-posts and houses and fences and trees.
"Have you really never been to a ball before, Leila? But, my child, how too weird—" cried the Sheridan girls.
"Our nearest neighbour was fifteen miles," said Leila softly, gently opening and shutting her fan.
Oh dear, how hard it was to be indifferent like the others! She tried not to smile too much; she tried not to care. But every single thing was so new and exciting... Meg's tuberoses, Jose's long loop of amber, Laura's little dark head, pushing above her white fur like a flower through snow. She would remember for ever. It even gave her a pang to see her cousin Laurie throw away the wisps of tissue paper he pulled from the fastenings of his new gloves. She would like to have kept those wisps as a keepsake, as a remembrance. Laurie leaned forward and put his hand on Laura's knee.
"Look here, darling," he said. "The third and the ninth as usual. Twig?"
Oh, how marvellous to have a brother! In her excitement Leila felt that if there had been time, if it hadn't been impossible, she couldn't have helped crying because she was an only child, and no brother had ever said "Twig?" to her; no sister would ever say, as Meg said to Jose that moment, "I've never known your hair go up more successfully than it has to-night!"
But, of course, there was no time. They were at the drill hall already; there were cabs in front of them and cabs behind. The road was bright on either side with moving fan-like lights, and on the pavement gay couples seemed to float through the air; little satin shoes chased each other like birds.


(Feita por Marcos)Exatamente quando o baile começou Leila teria achado difícil precisar. Talvez seu primeiro parceiro de fato tivesse sido o carro(?). Era irrelevante que ela tivesse compartilhado o carro com as Sheridan e o irmão delas. Sentou-se no seu pequeno canto, e o estofamento em que sua mão repousava lhe estimulava o tato como se fosse o tecido da manga do terno de um rapaz desconhecido; e adiante seguiram, ao longo de valseantes postes e casas e cercas e árvores.

“Voce realmente nunca foi a um baile antes, Leila? Mas, minha pequena, que coisa mais incrível-“ ralhou as Sheridan.
“Nosso vizinho mais próximo estava a quinze milhas”, disse Leila suavemente, delicadamente abrindo e fechando seu leque.

Oh, Deus, como era difícil manter-se indiferente como as outras! Ela tentou não sorrir demais; ela tentou não se importar. Mas tudo lhe era tão novo e estimulante... As angélicas de Meg, a longa presilha de âmbar de Jose, a cabecinha escura de Laura emergindo do casaco de pele branco tal qual uma flor surgindo na neve. Ela se lembraria para sempre. Até lhe causou uma pontada ver seu primo Laurie jogar fora os pedacinhos de lenço de papel que ele retirara do fecho de suas luvas novas. Ela gostaria de ter guardado aqueles pedacinhos de papel como uma lembrança, como uma recordação. Laurie se inclinou para a frente e pôs sua mão sobre o joelho de Laura.

“Olhe aqui, querida”, ele disse. “A terceira e a nona como sempre. Captou?”


Oh, que maravilhoso ter um irmão! Em sua exaltação, Leila pressentiu que se houvera tempo, se não tivesse sido impossível, ela não teria contido o choro porque ela era filha única, e irmão algum jamais houvera dito “Captou?” a ela; irmã alguma jamais lhe diria, como Meg disse a Jose naquele momento, “Jamais vi o seu cabelo tão bem arrumado como hoje à noite!”


Mas, obviamente, não havia tempo. Eles já estavam junto ao salão de bailes; havia carros à frente e atrás. A rua estava iluminada em ambos os lados com luzes se movendo agitadas, e na calçada, casais alegres pareciam flutuar no ar; sapatinhos de cetim perseguiam um ao outro como passarinhos.(Feita por Marcos)


Domingo, 26 de Abril de 2009
tradução primeira parte - Mariana

Leila teria achado difícil de dizer exatamente quando o baile começou. Talvez seu primeiro parceiro de verdade tivesse sido o carro. Não importava que ela o dividira com as Sherridan e o irmão delas. Ela recostava-se no seu próprio cantinho dele, e o descanso onde sua mão estava parecia a manga do terno de algum desconhecido; e lá se foram, passando por postes dançantes e casas e cercas e árvores.

“É verdade que você nunca foi a um baile antes, Leila? Mas, minha cara, que estranho –” exclamaram as Sheridan.

“Nosso vizinho mais próximo ficou a 15 milhas daqui,”disse Leila suavemente, gentilmente abrindo e fechando seu leque.

Ó céus, como era difícil ser indiferente como os outros! Ela tentava não sorrir demais; ela tentava não se importar. Mas tudo era tão novo e emocionante... O arranjo da Meg, o longo laço amarelo de Jose, a cabecinha negra de Laura aparecendo acima da sua pela branca como uma flor através da neve. Ela se lembraria para sempre. Até deu uma pontada ver seu primo Laurie jogar fora as aparas do lenço de papel que ele puxou da abotoadura das suas luvas novas. Ela teria gostado de manter aquelas aparas como uma lembrança, uma recordação. Laurie se inclinou para frente e apoiou suas mãos no joelho de Laura.

“Olhe aqui, querida,” ele disse. “A terceira e a nona como sempre. Twig?”

Ó, que maravilhoso ter um irmão! Na sua excitação Leila sentia que se houvesse tido tempo, que se não tivesse sido impossível, ela não poderia conter as lágrimas porque ela era filha única, e nunca um irmão teria dito “Twig?” a ela, ou nunca uma irmã teria dito, como Meg disse a Jose naquele momento, “Eu nunca vi seu cabelo em um penteado tão bem feito como o de hoje à noite”.

Mas claro, não havia tempo. Eles já estavam na entrada; havia carros na frente deles e carros atrás. A rua estava brilhante dos dois lados e as luzes que se moviam rapidamente, e na calçada alegres casais pareciam flutuar no ar; pequenos sapatinhos de cetim perseguiam uns aos outros como pássaros. (Mariana)

Parte 2

"Hold on to me, Leila; you'll get lost," said Laura.
"Come on, girls, let's make a dash for it," said Laurie.
Leila put two fingers on Laura's pink velvet cloak, and they were somehow lifted past the big golden lantern, carried along the passage, and pushed into the little room marked "Ladies." Here the crowd was so great there was hardly space to take off their things; the noise was deafening. Two benches on either side were stacked high with wraps. Two old women in white aprons ran up and down tossing fresh armfuls. And everybody was pressing forward trying to get at the little dressing-table and mirror at the far end.
A great quivering jet of gas lighted the ladies' room. It couldn't wait; it was dancing already. When the door opened again and there came a burst of tuning from the drill hall, it leaped almost to the ceiling.
Dark girls, fair girls were patting their hair, tying ribbons again, tucking handkerchiefs down the fronts of their bodices, smoothing marble-white gloves. And because they were all laughing it seemed to Leila that they were all lovely.
"Aren't there any invisible hair-pins?" cried a voice. "How most extraordinary! I can't see a single invisible hair-pin."
"Powder my back, there's a darling," cried some one else.
"But I must have a needle and cotton. I've torn simply miles and miles of the frill," wailed a third.
Then, "Pass them along, pass them along!" The straw basket of programmes was tossed from arm to arm. Darling little pink-and-silver programmes, with pink pencils and fluffy tassels. Leila's fingers shook as she took one out of the basket. She wanted to ask some one, "Am I meant to have one too?" but she had just time to read: "Waltz 3. 'Two, Two in a Canoe.' Polka 4. 'Making the Feathers Fly,'" when Meg cried, "Ready, Leila?" and they pressed their way through the crush in the passage towards the big double doors of the drill hall.

Parte 3

Dancing had not begun yet, but the band had stopped tuning, and the noise was so great it seemed that when it did begin to play it would never be heard. Leila, pressing close to Meg, looking over Meg's shoulder, felt that even the little quivering coloured flags strung across the ceiling were talking. She quite forgot to be shy; she forgot how in the middle of dressing she had sat down on the bed with one shoe off and one shoe on and begged her mother to ring up her cousins and say she couldn't go after all. And the rush of longing she had had to be sitting on the veranda of their forsaken up-country home, listening to the baby owls crying "More pork" in the moonlight, was changed to a rush of joy so sweet that it was hard to bear alone. She clutched her fan, and, gazing at the gleaming, golden floor, the azaleas, the lanterns, the stage at one end with its red carpet and gilt chairs and the band in a corner, she thought breathlessly, "How heavenly; how simply heavenly!"
All the girls stood grouped together at one side of the doors, the men at the other, and the chaperones in dark dresses, smiling rather foolishly, walked with little careful steps over the polished floor towards the stage.
"This is my little country cousin Leila. Be nice to her. Find her partners; she's under my wing," said Meg, going up to one girl after another.
Strange faces smiled at Leila—sweetly, vaguely. Strange voices answered, "Of course, my dear." But Leila felt the girls didn't really see her. They were looking towards the men. Why didn't the men begin? What were they waiting for? There they stood, smoothing their gloves, patting their glossy hair and smiling among themselves. Then, quite suddenly, as if they had only just made up their minds that that was what they had to do, the men came gliding over the parquet. There was a joyful flutter among the girls. A tall, fair man flew up to Meg, seized her programme, scribbled something; Meg passed him on to Leila. "May I have the pleasure?" He ducked and smiled. There came a dark man wearing an eyeglass, then cousin Laurie with a friend, and Laura with a little freckled fellow whose tie was crooked. Then quite an old man—fat, with a big bald patch on his head—took her programme and murmured, "Let me see, let me see!" And he was a long time comparing his programme, which looked black with names, with hers. It seemed to give him so much trouble that Leila was ashamed. "Oh, please don't bother," she said eagerly. But instead of replying the fat man wrote something, glanced at her again. "Do I remember this bright little face?" he said softly. "Is it known to me of yore?" At that moment the band began playing; the fat man disappeared. He was tossed away on a great wave of music that came flying over the gleaming floor, breaking the groups up into couples, scattering them, sending them spinning...

Parte 4

Leila had learned to dance at boarding school. Every Saturday afternoon the boarders were hurried off to a little corrugated iron mission hall where Miss Eccles (of London) held her "select" classes. But the difference between that dusty-smelling hall—with calico texts on the walls, the poor terrified little woman in a brown velvet toque with rabbit's ears thumping the cold piano, Miss Eccles poking the girls' feet with her long white wand—and this was so tremendous that Leila was sure if her partner didn't come and she had to listen to that marvellous music and to watch the others sliding, gliding over the golden floor, she would die at least, or faint, or lift her arms and fly out of one of those dark windows that showed the stars.
"Ours, I think—" Some one bowed, smiled, and offered her his arm; she hadn't to die after all. Some one's hand pressed her waist, and she floated away like a flower that is tossed into a pool.
"Quite a good floor, isn't it?" drawled a faint voice close to her ear.
"I think it's most beautifully slippery," said Leila.
"Pardon!" The faint voice sounded surprised. Leila said it again. And there was a tiny pause before the voice echoed, "Oh, quite!" and she was swung round again.
He steered so beautifully. That was the great difference between dancing with girls and men, Leila decided. Girls banged into each other, and stamped on each other's feet; the girl who was gentleman always clutched you so.

Parte 5

The azaleas were separate flowers no longer; they were pink and white flags streaming by.
"Were you at the Bells' last week?" the voice came again. It sounded tired. Leila wondered whether she ought to ask him if he would like to stop.
"No, this is my first dance," said she.
Her partner gave a little gasping laugh. "Oh, I say," he protested.
"Yes, it is really the first dance I've ever been to." Leila was most fervent. It was such a relief to be able to tell somebody. "You see, I've lived in the country all my life up till now... "
At that moment the music stopped, and they went to sit on two chairs against the wall. Leila tucked her pink satin feet under and fanned herself, while she blissfully watched the other couples passing and disappearing through the swing doors.
"Enjoying yourself, Leila?" asked Jose, nodding her golden head.
Laura passed and gave her the faintest little wink; it made Leila wonder for a moment whether she was quite grown up after all. Certainly her partner did not say very much. He coughed, tucked his handkerchief away, pulled down his waistcoat, took a minute thread off his sleeve. But it didn't matter. Almost immediately the band started and her second partner seemed to spring from the ceiling.
"Floor's not bad," said the new voice. Did one always begin with the floor? And then, "Were you at the Neaves' on Tuesday?" And again Leila explained. Perhaps it was a little strange that her partners were not more interested. For it was thrilling. Her first ball! She was only at the beginning of everything. It seemed to her that she had never known what the night was like before. Up till now it had been dark, silent, beautiful very often—oh yes—but mournful somehow. Solemn. And now it would never be like that again—it had opened dazzling bright.

Parte 6

"Care for an ice?" said her partner. And they went through the swing doors, down the passage, to the supper room. Her cheeks burned, she was fearfully thirsty. How sweet the ices looked on little glass plates and how cold the frosted spoon was, iced too! And when they came back to the hall there was the fat man waiting for her by the door. It gave her quite a shock again to see how old he was; he ought to have been on the stage with the fathers and mothers. And when Leila compared him with her other partners he looked shabby. His waistcoat was creased, there was a button off his glove, his coat looked as if it was dusty with French chalk.
"Come along, little lady," said the fat man. He scarcely troubled to clasp her, and they moved away so gently, it was more like walking than dancing. But he said not a word about the floor. "Your first dance, isn't it?" he murmured.
"How did you know?"
"Ah," said the fat man, "that's what it is to be old!" He wheezed faintly as he steered her past an awkward couple. "You see, I've been doing this kind of thing for the last thirty years."
"Thirty years?" cried Leila. Twelve years before she was born!
"It hardly bears thinking about, does it?" said the fat man gloomily. Leila looked at his bald head, and she felt quite sorry for him.
"I think it's marvellous to be still going on," she said kindly.